domingo, 6 de março de 2011

Iniciação o milagre da vida, Ifá e orixa.

Iniciação o milagre da vida, Ifá e orixa.



Autor: Babalawo Ifagbaiyin.

Ao longo da história da humanidade o homem vem desenvolvendo uma série de atividades, criando assim uma maior condição de sobrevivência, e desenvolvendo uma capacidade de adaptação aonde o principio básico é a manutenção da vida.

Essa condição (natural) é sentida desde o primeiro momento após o nascimento quando instintivamente buscamos alimento no seio da mãe.
O desenvolvimento de armas e elementos facilitadores como máquinas e implementos contribuíram para um menor desgaste físico, mas paralelamente a isso houve um desenvolvimento mental habilitando esse mesmo elemento a viver com suas dúvidas e decepções.

Nesse período a crença em uma força superior auxiliou muito na manutenção da esperança e na compreensão das perdas assim como, estimulou a capacitação moral e ética.

Com o surgimento dos rituais de iniciação essa capacidade passou a ser aprimorada em território Yoruba.


As pessoas que são iniciadas para determinados Òrìșàs seguem uma orientação de Ifá baseada em um principio da complementação.

Quando um sacerdote de Ifá é iniciado cumpre uma série de rituais e cultua os Òrìșàs indicados nos odus relativos à sua iniciação, já no caso da pessoa não iniciada em Ifá o processo pode seguir uma orientação um pouco diferente.

A pessoa nascida gêmea já trás abundância e a alegria em seu nascimento; sua vida vai ser de fartura naturalmente, e sua forma alegre de ver as coisas com um pouco de infantilidade jamais vai deixar de existir. Considerando esse fato pode ser que Ifá oriente a mesma a ser iniciada em um Òrìsà que tenha um senso prático mais apurado, facilitando assim a vida da pessoa, trazendo para ela uma capacidade que em muitas vezes é deficiente no dia a dia da mesma.

É verdade que estamos aqui examinando uma iniciação, e não uma feitura; então falamos de necessidades apontadas para complemento, suprindo assim uma deficiência que só não é encontrada em Olodumare.

Então se uma pessoa feita para Osun com uma capacidade enorme de amar, em algum momento de sua vida vier a ter um problema em sua vida afetiva, não vai ser considerado o fato de ela amar demais e sim o fato de amar a pessoa errada, sendo assim lhe falta discernimento na hora de eleger o parceiro.


Nesse caso poderá ser indicada a iniciação ao Òrìșa Ọbàtálá, criando assim uma forma de pensar e agir mais equilibrada na vida sentimental dessa pessoa, se isso não for feito seguirá por toda vida se unindo a pessoa errada trazendo assim uma decepção em sua vida afetiva, gerando uma forma de agir involuntária aonde a mesma termina desenvolvendo um comportamento em desalinho com seu destino.

A pessoa com tal problema poderá se unir por interesse, considerando que houveram inúmeras decepções, ou até mesmo desenvolver um comportamento narcisista e individualista gerado pelo medo de amar a pessoa para de se doar, e assume um comportamento egoísta.

Esse tipo de situação pode ser resolvido com uma iniciação ou com outras formas de tratamento, sempre seguindo a orientação de Ifá, é bem verdade que iniciar uma pessoa não feita não é comum, mas é aceitável; muitas vezes a necessidade de uma iniciação antecede a feitura e em muitos casos substitui.

Vejamos então outro exemplo, uma pessoa nascida com problemas de saúde, por orientação de Ifá poderá ser iniciada no culto de vários Òrìșàs; mas o ideal é que primeiramente seja iniciada em Soponnan ou até mesmo em Olókun, Òrìșàs mais diretamente ligados a essas questões, trazendo assim uma melhor qualidade de vida a essa pessoa que poderá ser feita ou não em um futuro. A diferença entre a feitura que exalta as qualidades já existentes no momento do nascimento, e a iniciação que justifica a reposição do que falta em nossa essência é muito forte: feitura e iniciação se diferem e as mesmas só podem ser indicadas por Ifá.


Assim como a iniciação, deixamos bem claro que a orientação pode ser um ebó, ou algum outro tipo de tratamento, e até mesmo uma feitura em caso extremo.

Voltando as iniciações, no caso de algumas pessoas feitas para Ògún poderá ser indicado iniciação em Yèmojà. O filho de Ògún com toda sua vitalidade para o trabalho e os esportes, com sua valentia e coragem muitas vezes sem perceber se afasta um pouco da família e a iniciação em Yèmojà o ajudará nesse relacionamento com filhos e parentes.

Pode acontecer também que essa mesma pessoa feita de Ògún com toda essa vitalidade necessite da iniciação em Ọbàtálá para que tenha mais calma e enfrente os obstáculos com menos desgaste.

Quando analisamos o milagre da iniciação, depois de algum tempo comparando o comportamento do iniciado, fica claro a mudança; a influência do Òrìșa iniciado na vida da pessoa mesmo que ela já seja feita há muito tempo ou que ainda não tenha seu Òrìșà pessoal, é visível e fica evidenciada em seu comportamento.
A iniciação realmente pode ser descrita como um milagre quando bem feita seguindo as indicações corretas.


Poderia descrever aqui os efeitos das mais diversas iniciações no dia a dia do indivíduo, mas não devemos esquecer que em território Yoruba o número de Òrìșàs assentado para uma pessoa que não vai ser um sacerdote é muito reduzido e não raramente excede a três ou quatro, também pode acontecer que a necessidade de culto a um Òrìșà familiar ou antepassado seja indicada por Ifá, ou que a pessoa jamais seja iniciada ou feita.

A iniciação aqui em nosso país passou a ser tratada como um complemento necessário e não como uma solução indicada; quando nascemos somos imperfeitos e assim seremos por toda a vida, o milagre da iniciação só vai amenizar os efeitos de tais imperfeições.


É muito comum ver pessoas feitas para Òrìșàs, mas que na verdade deveria ser iniciada, criando assim inúmeras dificuldades, essa confusão entre iniciação e feitura limita as realizações pessoais e o não cumprimento do destino, implica em sofrimento e desgosto, esse problema se torna cada dia mais comum por falta de conhecimento dos sacerdotes.